28 julho 2011

É preciso parar de construir


A CONSTRUÇÃO na periferia de estradas, escolas, hospitais e centros comerciais fez com que as duas mais importantes áreas metropolitanas do país passassem a ser aglomerados policêntricos

 As 350 mil casas que estão à venda demorariam três anos a escoar se, no entretanto, as imobiliárias não continuassem a encharcar o mercado com mais oferta (a fileira da construção tem uma velocidade de travagem em tudo idêntica à dos superpetroleiros) - e se o ritmo das vendas se mantivesse igual ao de 2010, o que é altamente improvável, pois, para ressuscitar o arrendamento, a troika impôs medidas que penalizam a propriedade e a banca passou da fase em que andava atrás de nós para nos emprestar dinheiro para a de andar atrás do nosso dinheiro.

Não é preciso ser um Einstein para perceber que já terminou o tempo em que as áreas metropolitanas do Porto e Lisboa cresceram anarquicamente como manchas de azeite, fazendo a fortuna de empreiteiros habilidosos e o upgrade de patos-bravos. Agora é preciso parar de construir e passar a reabilitar.

Um país com a dívida soberana classificada como lixo não se pode dar ao luxo de ter um milhão de habitações a precisar de obras e 100 mil milhões de euros empatados em casas vazias. No coração do Porto há 15 mil edifícios a cair. Do total de 55 350 edifícios existentes em Lisboa, 4618 (8%) estão abandonados e 7700 ameaçam ruir.
Face a esta situação é impossível não achar estranho que, apesar do programa de obras no Parque Escolar promovido pelo Governo Sócrates, a reabilitação pese menos de 7% no nosso mercado construção, quando em Espanha vale 29% e a média europeia é de 36%. Requalificar, reordenar e reabilitar são as soluções para desatar o nó complexo que nos impede de progredir.
Após o 25 de Abril, as cidades portuguesas cresceram de uma forma caótica e desordenada. O congelamento das rendas, decretado no Estado Novo e mantido pela jovem democracia, teve o efeito perverso de ser o pai de uma explosão desordenada e difusa das periferias de Lisboa e Porto.
Favorecidas pelo forte aumento do poder de compra, democratização do automóvel e multiplicação de vias rápidas e auto-estradas, as periferias das grandes cidades esvaziaram os centros urbanos tradicionais, assumindo o papel de poderoso imã que atraiu dezenas de milhares de jovens casais.

A construção na periferia de estradas, escolas, hospitais e centros comerciais, para servir as populações em movimento, fez com que as duas mais importantes áreas metropolitanas portuguesas passassem a ser aglomerados urbanos policêntricos.

A desertificação dos centros cívicos e os movimentos centrífugos dos últimos 30 anos têm de ser contrariados por um esforço de ressurgimento dos centros históricos, criando condições para que eles voltem a ser habitados e tenham uma vida activa para além das horas de expediente dos serviços.

Este esforço centrípeto é essencial para manter o Porto como um destino «trendy» para os turistas estrangeiros e para que seja restabelecido o equilíbrio ecológico na malha urbana.

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